Olhares sobre o Pampa: iniciativa enaltece biodiversidade e cultura do bioma

Escrito em 25/09/2025
Micael Olegário

Foto colorida de diversos cavalos de pelo castanho reunidos diante de cerca no Pampa gaúcho; Imagem do concurso Olhares sobre o Pampa

Vou repontando querências / Ajojadas com o Rio Grande / Com este pampa na garupa / Em qualquer lugar que eu ande. Assim diz a letra de “Pampa na Garupa”, canção do grupo “Os Farrapos”. Espalhado por áreas do Brasil, Argentina e Uruguai, o Pampa possui uma biodiversidade em que predominam os campos nativos, por vezes, pouco valorizados. Em sua 2° edição, o concurso fotográfico “Olhares sobre o Pampa” surgiu com o objetivo de valorizar o bioma e seus aspectos socioambientais e culturais.

Leia mais: ‘O Pampa é uma riqueza enorme que a sociedade não enxerga’

Nascido em Uruguaiana, na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, Egberto Dutra, 50 anos, cresceu na cidade ouvindo memórias do pai e do avô sobre a vida no campo. Ao longo dos anos, a família perdeu as terras que possuía, mas preservou a ligação com o Pampa. “Meu avô, de dono de estância, acabou sendo empregado, inclusive, até trabalhou em uma das estâncias que foi do pai dele”, recorda.

Enquanto estávamos fazendo um estudo para esse concurso fotográfico sobre o Pampa em si, vimos como ele não era trabalhado, o quão importante é e o quanto acabamos não ressaltando ele

Guilherme Heck
Um dos organizadores do Olhares sobre o Pampa

Formado em engenharia mecânica, Egberto saiu da fronteira para morar em Santa Maria e passou por diferentes cidades até se estabelecer em Florianópolis (SC). Em 2018, começou a trabalhar com fotografia e, em 2021, foi convidado para registrar um remate de cavalo crioulo na Cabanha Salamandra de um amigo, Thiago de Souza Freitas. Foi quando as memórias e a ligação com o campo reacenderam.

“A fotografia me devolveu o que a distância me tirou, vivenciar tudo isso de alguma forma, ajudar a enaltecer o bioma Pampa, com as suas pessoas, suas lidas e suas tradições”, descreve Egberto. A cultura gaúcha está intrinsecamente relacionada com as características do Pampa, principalmente, com a pecuária familiar e com heranças dos demais povos tradicionais do bioma, a exemplo da erva-mate, tradição de origem guarani.

Inspirado no reconhecido fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, Egberto destaca que a cultura é mais protagonista que a câmera para o registro de imagens. Ele também descreve o desafio de fotografar o cotidiano das pessoas que trabalham no campo. “Não tem como ensaiar movimento numa tropa (de gado) inteira ou na lida com uma tropilha de cavalos e de potros. Tu não pode mandar; ‘vai lá de novo e faz isso’. É o movimento da estância que está acontecendo”.

Atualmente, Egberto visita o Pampa, pelo menos, três vezes ao ano, para participar de eventos, visitar lugares e fazer novas fotografias. O trabalho o levou a ser um dos profissionais premiados na 1° edição do Olhares sobre o Pampa, com imagens tiradas nas estâncias São Miguel do Sarandy e Rancho Novo, em Santana do Livramento, outra cidade da Fronteira Oeste, região em que a paisagem do Pampa é mais predominante. 

Foto colorida de homem acariciando a cabeça de um cavalo. O homem está vestido ao estilo gaúcho, com chapéu e uma camisa branca.
“Doma Lanuda”; obra de Egberto que ficou em 8° lugar na categoria profissional da 1° edição do Olhares sobre o Pampa (Foto: Egberto Dutra/Olhares sobre o Pampa)

Detalhes do concurso

Morador de Três Passos, cidade do Noroeste do RS, Guilherme Heck é um dos representantes da Foco Arte e Cultura, produtora cultural responsável pelo Olhares sobre o Pampa. O projeto conta com o financiamento: Pró-Cultura RS – Governo do Estado do Rio Grande do Sul, além de patrocínio de empresas. O concurso está dividido em duas categorias, uma para fotógrafos profissionais e outra para amadores. As inscrições são gratuitas e seguem abertas até 30 de setembro.

Guilherme conta que a ideia para o concurso surgiu a partir do contato com uma rede de fotógrafos de municípios da região. A partir daí foi criado primeiro o “Olhares sobre o Rio Uruguai”, concurso fotográfico que busca valorizar a beleza e a cultura que se desenvolve no entorno do Rio Uruguai.

O modelo deu certo e foi replicado para valorizar imagens sobre o Pampa. “Enquanto estávamos fazendo um estudo para esse concurso fotográfico sobre o Pampa em si, vimos como ele não era trabalhado, o quão importante é e o quanto acabamos não ressaltando ele”, comenta Guilherme, sobre a intenção de dar visibilidade para o bioma como patrimônio natural e cultural.

A primeira edição, realizada em 2024, recebeu 513 fotos de amadores e 228 de profissionais, 20 delas foram premiadas, sendo 10 em cada categoria. Neste ano, Guilherme conta que o número de inscrições já superou a edição anterior e, a exposição fotográfica com as vencedoras será no dia 9 de novembro, em Santana do Livramento. 

Na 2° edição, Egberto Dutra integra o conselho curatorial que escolherá as imagens premiadas. Além de estimular a valorização do bioma, o fotógrafo acredita que a iniciativa possui potencial de aumentar o turismo na região. “Estimula que as pessoas visitem, participem de eventos no Pampa. Ajuda a movimentar o turismo e, principalmente, para que conheçam esses lugares”, acrescenta.

O post Olhares sobre o Pampa: iniciativa enaltece biodiversidade e cultura do bioma apareceu primeiro em #Colabora.

.