Mesmo a poucos dias das eleições, a pauta da Cultura permanece amplamente negligenciada pelos candidatos a vereador e prefeito. Em muitos discursos, percebe-se que os candidatos carecem de um entendimento mais profundo sobre o papel vital que a Cultura desempenha no desenvolvimento econômico e social das cidades. Quando tentam apresentar propostas nesse campo, tropeçam em conceitos vagos e genéricos, utilizando termos como "incentivar", "promover" e "valorizar", sem uma real compreensão ou planejamento estratégico.
Esse distanciamento reflete não apenas a falta de prioridade dada ao setor cultural, mas também a ausência de políticas públicas efetivas que reconheçam o potencial da Cultura como motor de geração de empregos, fortalecimento da identidade local e estímulo ao turismo. Ao tratar a Cultura de maneira superficial, os candidatos perdem a oportunidade de demonstrar uma visão inovadora e integrada, essencial para o progresso urbano e para o bem-estar de suas comunidades.
Os atuais postulantes aos cargos públicos parecem concentrar suas atenções em temas mais tradicionais e de maior apelo popular, como saúde, educação e, de maneira genérica, geração de emprego e renda. Embora sejam questões cruciais, há uma flagrante omissão quanto à transversalidade e à relevância da arte e da cultura no desenvolvimento integral da sociedade. A Cultura, muitas vezes relegada a segundo plano, desempenha um papel essencial como motor propulsor de outros setores, especialmente no campo da educação e da saúde mental.
Em um momento pós-pandemia, em que o mundo ainda se recupera dos impactos profundos de uma crise sanitária global, é urgente reconhecer que a arte e a cultura não são meros complementos, mas ferramentas poderosas de regeneração social. Estudos mostram que o acesso à cultura e às práticas artísticas pode ser fundamental para melhorar a saúde mental, reduzindo o estresse, a ansiedade e promovendo bem-estar emocional, algo que se tornou ainda mais crítico após o isolamento e as dificuldades emocionais geradas pela COVID-19.
Além disso, a cultura tem um impacto significativo na educação, funcionando como um catalisador para o desenvolvimento cognitivo, o pensamento crítico e a criatividade. Ignorar esse potencial é desconsiderar a possibilidade de uma formação mais completa e inovadora para as futuras gerações. No entanto, os candidatos continuam a tratar esses aspectos de forma marginal, falhando em integrar a cultura como parte de suas plataformas políticas de maneira concreta e planejada.
Essa omissão não só enfraquece o debate eleitoral, mas também revela a falta de visão estratégica necessária para enfrentar os desafios atuais. A cultura, ao lado da saúde e da educação, deveria ser vista como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento sustentável das cidades, capaz de gerar impactos positivos tanto no aspecto social quanto no econômico. No entanto, enquanto os postulantes ao poder não entenderem essa interconexão, perderão a oportunidade de propor soluções verdadeiramente transformadoras.
CIDADE RICA E POUCA EXPLORADA
São José de Ribamar, uma cidade com potencialidades exponenciais, desde sua rica diversidade de praias com balneabilidade, geografia propicia para trilhas e uma riqueza cultural, que tem variações da religiosidade católica, perpassando por terreiros de matriz africana , até um histórico patrimônio arqueológico que é o sambaquis de Panaquatira, reconhecido pelo Iphan e protegido por Lei e pouco estudado por acadêmicos. São José de Ribamar é uma cidade de potencialidades excepcionais, cuja diversidade natural, geográfica e cultural oferece um vasto leque de oportunidades para o desenvolvimento sustentável e o turismo. Com suas praias de balneabilidade reconhecida e uma geografia ideal para a prática de trilhas ecológicas, o município desponta como um destino de grande valor para o ecoturismo e o lazer. No entanto, o que torna São José de Ribamar verdadeiramente única é a sua riqueza cultural, que reflete a fusão de diferentes tradições religiosas e manifestações populares.
A cidade é um importante centro de religiosidade, onde a devoção católica convive harmoniosamente com as tradições de matriz africana, expressas nos terreiros e nas celebrações culturais. Essa diversidade religiosa não só fortalece a identidade local, mas também serve como um atrativo para o turismo religioso, que poderia ser melhor explorado com o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a promoção desse patrimônio imaterial.
Além disso, São José de Ribamar abriga o patrimônio arqueológico dos sambaquis de Panaquatira, uma preciosidade histórica reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e protegida por lei. Esses sítios arqueológicos, formados por depósitos milenares de conchas e outros vestígios, oferecem um olhar profundo sobre as primeiras civilizações que habitaram a região. No entanto, apesar de seu valor inestimável, os sambaquis permanecem pouco estudados e divulgados, com raros investimentos em pesquisa acadêmica e iniciativas de conservação ativa.
A cidade, portanto, possui uma riqueza inexplorada que, se bem gerida, poderia não apenas atrair turistas, mas também impulsionar estudos acadêmicos e o desenvolvimento de um turismo cultural mais estruturado. Esse cenário demanda uma visão estratégica por parte dos gestores públicos e da sociedade civil, no sentido de valorizar e preservar o patrimônio natural e cultural de São José de Ribamar, garantindo que suas potencialidades sejam plenamente aproveitadas para o benefício econômico e social da população.
A CIDADE E A MOBILIDADE URBANA
Para falar de cultura em São José de Ribamar, é imprescindível também discutir a questão da mobilidade urbana, pois ela impacta diretamente o acesso da população e dos turistas aos espaços culturais e turísticos da cidade. O sistema de transporte semiurbano do município enfrenta sérias deficiências, com linhas mal planejadas que não se conectam de forma eficiente a outros pontos da região metropolitana. Isso resulta em trajetos longos e desgastantes para os usuários, dificultando o deslocamento e reduzindo a qualidade de vida da população.
Além disso, os ônibus metropolitanos que atendem a cidade operam com uma frota sem ar-condicionado, o que se torna um agravante especialmente nos horários de maior calor, entre 10:00 e 16:00, quando as temperaturas são elevadas. O desconforto durante essas viagens é uma reclamação frequente dos usuários, que enfrentam trajetos longos sob condições inadequadas.
O problema não se limita apenas aos ônibus. A frota de vans, que outrora era uma opção mais confortável, hoje encontra-se envelhecida e em péssimo estado de conservação. Muitas dessas vans já não contam mais com o ar-condicionado, que antes proporcionava um transporte mais agradável para aqueles que visitavam a cidade balneária. O desgaste desse meio de transporte, que antes era uma alternativa viável, reflete a falta de investimento e de manutenção adequada.
Outro ponto crítico é a ausência de transporte público adequado para as principais praias da cidade, como Panaquatira, Praia de Banho, Guarapiranga, Unicamp, entre outras. Esse déficit limita o acesso de moradores e turistas a essas áreas, afetando negativamente o comércio local e as comunidades próximas, que poderiam se beneficiar economicamente com um fluxo maior de visitantes.
Uma infraestrutura de transporte eficiente e acessível é fundamental não apenas para o deslocamento cotidiano da população, mas também para fomentar o turismo e a cultura local. Sem isso, São José de Ribamar perde oportunidades valiosas de desenvolvimento econômico e social, além de deixar de oferecer uma experiência de qualidade para quem deseja conhecer suas belezas naturais e culturais. Assim, é urgente que a mobilidade seja tratada como uma prioridade na agenda pública, visando um transporte mais moderno, integrado e confortável para todos.
TURISMO E ACOLHIMENTO
Um assunto rápido para finzalizar é o desconforto com que os turistas encontram ao chegar na cidade, com um calor que beira os 35º a 38º graus , não há espaço onde o turistas ou visitantes possam se abrigar, muito menos , ter acesso a um mirante que possa abastecer-se com água , vale lembrar que muitos vem a cidade, para fins religiosos, pois o turismo religioso ainda é o maior motivo de fluxo turístico até a cidade. O que poderia ser resolvido se os vários espaços existentes, e não utilizados, pudesses ser estruturados para esses fim, como por exemplo, a casa do Romeiro (Rua Menino Deus) o abrigo por baixo da concha acústica . o Coreto da Cidade; e a própria Secretaria de Cultura, que mesmo com o prédio deteriorado, sem há anos ter uma reforma, poderia ser um pont Um ponto importante a ser abordado, para concluir, é o desconforto que os turistas enfrentam ao chegar na cidade, especialmente em dias de intenso calor, com temperaturas que variam entre 35ºC e 38ºC. Não há espaços adequados onde os visitantes possam se abrigar do sol ou mesmo encontrar um mirante com estrutura básica, como acesso a água potável. É relevante lembrar que muitos turistas vêm à cidade por motivos religiosos, uma vez que o turismo religioso ainda é o principal responsável pelo fluxo de visitantes.
Essa situação poderia ser facilmente resolvida com a requalificação de diversos espaços subutilizados. A Casa do Romeiro, na Rua Menino Deus, é um exemplo de local que poderia ser estruturado para atender a essas necessidades. Da mesma forma, o abrigo sob a concha acústica, o coreto da cidade e até a própria sede da Secretaria de Cultura são espaços com potencial para oferecer repouso e acolhimento aos visitantes. No entanto, a Secretaria de Cultura, por exemplo, encontra-se em estado de deterioração, sem receber reformas há anos, o que a impede de cumprir essa função.
Além disso, a cidade carece de qualquer tipo de informativo turístico e não possui uma equipe da Guarda Municipal treinada para orientar e atender turistas, o que agrava ainda mais a experiência do visitante. Investir na reestruturação desses espaços e na formação de equipes especializadas para o atendimento ao turista seria um passo fundamental para melhorar a receptividade da cidade e, consequentemente, fortalecer o turismo local.o de repouso e acolhimento, vale lembrar que a cidade não conta com qualquer informativo turístico, nem um grupo da Guarda Municipal habilitado para atender o turista.
Valberlúcio Pereira é Bacharel em Ciências Contáveis, especialista em Gestão de Projetos, Pós-graduando em Gestão da cultural Maranhense e Graduando de turismo( UFMA) e atualmente é Gestor do Centro Cultural Casa Gamela